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Curitiba,29/03/2024

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Governo Britânico apoia projeto para reduzir os impactos da Covid-19 no Complexo da Maré

Você conhece a relação entre as condições de saneamento básico (água e esgoto) e a proliferação do novo coronavírus? Artigos de revistas científicas atestam a presença do vírus nos excrementos humanos, mesmo em casos assintomáticos ou curados. A parcela da população que não possui água encanada ou rede de esgoto tem mais dificuldades ao combater o contágio, visto que a intensificação da higiene é apontada por especialistas como a melhor estratégia.

O último mapa da desigualdade realizado pela Casa Fluminense aponta que apenas 63% da população do município do Rio de Janeiro recebe esgoto coletado e tratado. Caminhando pelas favelas da cidade, onde vivem mais de 20% da população, é fácil entender quem não tem acesso a esse direito básico. Inserido nesse contexto de precariedade, o laboratório de dados e narrativas na Favela da Maré, o data_labe, iniciou um projeto no fim de 2016 com o objetivo de evidenciar as desigualdades sanitárias vividas pela população mais pobre e promover a transformação social a partir de dados gerados por cidadãos.

Este ano, o projeto avançou em uma nova etapa em resposta à pandemia de Covid-19 e no dia 10 de novembro foi lançado o Plano popular de vigilância em saúde e meio ambiente na Maré, com o apoio do Governo Britânico e do Parque Tecnológico da UFRJ.

O Plano apresenta uma série de recomendações para a diminuição dos impactos da crise sanitária na Maré, visando a criação de propostas que também possam ser aplicadas a outras favelas e territórios populares. O documento reúne evidências técnicas e científicas para a produção de políticas públicas e de engajamento cívico por parte de ativistas, jornalistas e população em geral.


Do ponto de vista metodológico, o estudo foi realizado a partir do monitoramento do impacto do novo coronavírus na rotina de 15 famílias na Maré, com ênfase na violação de direitos sanitários. Todos os dados levantados neste processo foram cruzados com dados públicos e comunitários - como o censo populacional da Maré -, produzindo uma base de evidências para a tomada de decisão na esfera das políticas públicas. A estratégia utilizada está diretamente relacionada ao conceito do uso de dados em cidades inteligentes (smart cities).

“O governo britânico tem apoiado iniciativas na área de cidades inteligentes em diferentes regiões do Brasil. O objetivo é promover o desenvolvimento sustentável, a redução da pobreza e a melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos. Este compromisso se torna ainda mais relevante no contexto atual, onde o uso de dados e a aplicação de tecnologias inteligentes são as principais ferramentas na busca de soluções para os desafios trazidos pela pandemia. Nossa expectativa é que a metodologia e os dados que foram produzidos neste projeto se tornem uma referência e possam ser replicados em diferentes comunidades, atendendo particularmente aos grupos mais vulneráveis”, considerou o diretor do programa de cidades inteligentes da Embaixada do Reino Unido no Brasil, João Rampini.

O plano de monitoramento inclui recomendações específicas para esgotamento sanitário, abastecimento e qualidade de água, coleta e manejo dos resíduos sólidos e epidemiologia, com o objetivo de reduzir os impactos da pandemia no Complexo da Maré. O relatório completo com todas as recomendações pode ser encontrado neste link.

Histórico do Projeto

O Cocôzap é um projeto de mapeamento, mobilização e incidência para o saneamento básico na Maré realizado desde 2018 em parceria com a Casa Fluminense e a Redes da Maré. Através de encontros mobilizadores, articulação política e pesquisa, o projeto vem coletando dados de forma cidadã e articulando ativistas, moradores e gestores públicos para a resolução de um problema estrutural: o saneamento básico.

O funcionamento prático é o seguinte: os moradores que encontram vazamentos de águas residuais não tratadas, lixo não coletado ou falta de acesso à água limpa podem enviar uma mensagem por whatsapp com fotos e/ou vídeos para o contato do Cocôzap. Cada relato passa a integrar um banco de dados com todas as informações descritivas, o que constrói um mapeamento. Com estes dados estão organizados e mapeados, o laboratório da Maré usa as informações para criar relatórios e apresentações sobre os problemas sanitários e seus impactos sobre os moradores da Maré.

"Acreditamos que assim, de forma colaborativa, horizontal e facilmente replicável, serão construídos diagnósticos mais fidedignos do que os indicadores ditos oficiais, utilizados pelos gestores públicos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, mais de 90% dos domicílios de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro são atendido por serviços de coleta de lixo e esgotamento sanitário. Sabemos que isso não é verdade. A ideia de gerar dados a partir de nosso próprio engajamento e vivência pode também indicar soluções mais legítimas, baseadas em evidências fornecidas justamente por quem vive os dados mais extremos", aponta o coordenador do data_labe Gilberto Vieira, em artigo publicado no Medium.

As últimas três etapas do Cocôzap contaram com apoios do Fundo Socioambiental Casa, da Fundação Heinrich Boll, da Fundação Open Society, e do Programa de Pós Graduação em Gestão Urbana da PUC Paraná em parceria com a Durham University, sempre com vistas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), evidenciando as desigualdades estruturais do Brasil e a importância da sociedade civil organizada na luta por direitos civis.




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